Recentemente foi noticiado que já é possível realizar um diagnóstico preciso da Doença de Alzheimer em Portugal.
No sentido de esclarecermos algumas dúvidas entrevistamos a Drª Odete Cruz e Silva, responsável pelo projecto da Unidade de Diagnóstico Neuroquímico da Doença de Alzheimer do Centro de Biologia Celular da Universidade de Aveiro.
Como surgiu a ideia/necessidade de criarem esta Unidade?
O Centro de Biologia Celular colabora com grupos de investigação a nível Europeu há mais de uma década. No decorrer destas colaborações foi possível acompanhar em primeira mão a implementação do diagnóstico neuroquímico para a doença de Alzheimer. Este já é efectuado noutros países há mais de 10 anos. Em Portugal algumas unidades de investigação estão também a introduzir este diagnóstico e em Aveiro optamos por desenvolver esta tecnologia enquadrada numa ‘spin-off’, a 2CTech.
De que forma decorreu este processo? Nomeadamente, que parcerias se desenvolveram? Quais as dificuldades sentidas?
As parcerias desenvolvidas são com parceiros Europeus no âmbito de projectos Europeus, nomeadamente o projecto cNeupro. Mantemos estas colaborações e no futuro procuramos colaborar em projectos adicionais com o intuito de identificar biomarcadores adicionais para outras demências.
Quem integra esta equipa?
Actualmente a equipa integra 2 estudantes que completaram o curso de Ciências Biomédicas da Universidade de Aveiro e dois colaboradores do Centro de Biologia Celular.
Quais as vantagens, na sua opinião, em se realizar um diagnóstico precoce da Demência de Alzheimer?
Existem várias vantagens, nomeadamente diagnosticar devidamente a doença de Alzheimer sendo possível distingui-la duma Demência Fronto Temporal, Demência Vascular, uma depressão ou mesmo um tumor encefálico localizado, por exemplo. Assim será possível orientar uma terapia dirigida. Mais, este diagnóstico é efectivo em diagnosticar a patologia numa fase precoce permitindo novamente uma terapia adequada que promove uma melhor qualidade de vida. Será também possível monitorizar a eficácia de vários fármacos que se encontram em fase de ensaios clínicos.
Mesmo que ainda não estejam presentes sintomas evidentes é possível fazer este diagnóstico? Por exemplo, caso existam factores de risco (eg. história familiar de demência) é possível pedir para este diagnóstico ser realizado?
Este diagnóstico não se apresenta para rastreio da população. É sim um diagnóstico diferencial que devia ser incluído numa consulta de demência, os resultados do diagnóstico deviam ser avaliados globalmente com os outros exames complementares solicitados pelo neurologista. É no entanto um exame altamente fiável quando existem queixas de demência, mesmo se muito ligeiras. Por vezes histórias familiares têm na sua base alterações genéticas (ADN) e estas podem ser avaliadas por outro tipo de exame, também alguns destes executados na 2CTech.
Como é feito o diagnóstico e em quanto tempo?
O diagnóstico é feito a partir do líquido cefalorraquidiano, que nos pode chegar dentro de 24hr após a sua recolha via punção lombar. A recolha tem sempre que ser coordenada por um neurologista.
Como se processa o encaminhamento para este serviço? Quem o pode solicitar?
Pode um cidadão comum recorrer, por sua iniciativa, a este serviço? Qual o custo associado?
O encaminhamento é sempre via um neurologista. O custo é sob consulta e depende do leque de diagnósticos solicitados. Qualquer partido interessado pode contactar-nos directamente.
De uma forma breve, diga-nos quais são as informações que acha pertinente que o grande público e/ou os técnicos de saúde devem saber sobre esta Unidade?
O Centro de Biologia Celular dedica-se ou estudo da base molecular de várias patologias. Este trabalho leva à identificação de potenciais candidatos para fins de diagnóstico, prognóstico, monitorização de fármacos ou mesmo terapêuticos. Para a seu desenvolvimento biotecnológico estes candidatos moleculares passam por uma fase de investigação translacional. Para esta fase mais aplicada o CBC conta com a colaboração da Universidade de Aveiro, da 2CTech e vários colaboradores nas áreas da investigação biomédica e medicina.
Esta metodologia irá permitir, no futuro, uma medicina mais personalizada. Algumas áreas de intervenção incluem a Doença de Alzheimer e outras demências, regeneração neuronal, a fertilidade masculina, doenças metabólicas e o cancro.
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